segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Vamos ao que interessa: conteúdo!

Este excerto faz parte de um “artigo” (entre aspas porque eu não o publiquei em nenhum lugar) que eu elaborei pensando no papel do Marketing e da Pesquisa de Mercado como mediadores do campo de consumo e do campo de produção e também nas possibilidades de atuação dos estudos antropológicos nesta intersecção. Nele exponho alguns conceitos elaborados e desenvolvidos por Pierre Bourdieu, no livro “A Distinção”, acerca da relação estabelecida entre tais campos (produção e consumo), localizando o Marketing neste contexto.


Em breve publicarei o texto na íntegra no meu site, que está em construção.



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(...)


À luz das categorias de Pierre Bourdieu (BOURDIEU, 1979), podemos situar o Marketing entre o campo de produção e o campo de consumo, onde exerce um papel mediador ao organizar os processos de distribuição e desenvolvimento de novos bens materiais, além de fornecer ao campo da produção ferramentas de identificação das demandas disponíveis no campo do consumo.


Para Bourdieu (BOURDIEU, 1979), o ajuste entre oferta e demanda não resulta de uma suposta imposição da produção sobre o consumo, nem tampouco de uma antecipação consciente, por parte desta, das necessidades dos consumidores. Ao contrário, existe uma dinâmica de correspondência entre duas lógicas distintas que operam no campo que elabora os bens materiais e no campo onde os gostos são produzidos, havendo uma homologia entre ambas as dimensões, proporcionando às mercadorias o encontro não proposital das demandas elaborada nas relações imersas no campo do consumo. É através desta dinâmica homóloga entre oferta e demanda que os diferentes gostos, disponíveis no universo dos possíveis, encontram a possibilidade de objetivação, o que garante o funcionamento do mercado.


Ao campo de produção, cabe oferecer o “universo de bens culturais como sistema das possibilidades estilísticas” (BOURDIEU, 1979, pp 216), dentro do qual irá selecionar os traços constitutivos dos bens materiais de acordo com os gostos de um determinado estilo de vida. Desta forma, a oferta exerce um efeito de imposição simbólica e, como conseqüência, possui a força de legitimar e fortalecer os gostos correspondentes, pois assume o papel de autorizar e realizar as disposições de maneira coletivamente reconhecida.


Os gostos, por outro lado, regem as relações que são estabelecidas com este capital objetivado, composto por um mundo de objetos hierarquizados e hierarquizantes, definindo-o e permitindo a sua realização. Se, por um alado, os gostos realizados dependem das possibilidades estilísticas disponíveis; por outro lado, a relação de dependência também se opera na direção inversa: uma mudança no sistema de gostos modifica, invariavelmente, o campo da produção, de maneira a ter sucesso os produtores mais bem equipados para responderem às novas condições das disposições (BOURDIEU, 1979).


Através da lógica da concorrência de mercado, os produtores produzem uma gama diversificada de produtos a fim de corresponder aos diferentes interesses dos consumidores e oferecer a possibilidade de sua realização, pois como o próprio ditado popular nos ensina: “Existe gosto para tudo”.


Nesta dinâmica, identificamos, então, uma homologia de natureza funcional e estrutural, que deve a sua existência a uma tendência dos campos especializados se organizarem sob uma mesma lógica, onde a correspondência entre a classe de produtos e a classe de consumidores só se realiza no consumo através de uma homologia entre bens e grupos, o que permite, por parte do indivíduo, uma identificação de bens objetivamente adequados a sua posição na sociedade ou no grupo ao qual pertence. Desta forma, opera-se a manutenção dos processos de oferta e demanda inerentes à lógica de mercado (BOURDIEU, 1979).


(...)


Referência Bibliográfica

BOURDIEU, Pierre (1979). A distinção: crítica social do julgamento. São. Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.




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